FERNANDO
PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS
Importante!
Vocês
já estão no último ano, um passo para a Universidade. Têm que ter o pensamento
crítico! Saber discernir cada heterônimo de Fernando Pessoa é um passo muito
relevante!
Então,
mãos a obra! Carlos
MODERNISMO
PORTUGUÊS
Marco inicial do Modernismo português: publicação de
Orpheu, 1915 – revista trimestral que teve apenas dois números
publicados (participação do brasileiro Ronald de Carvalho)
Principais
poetas: Mário Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Fernando Pessoa.
Fernando
Antônio Nogueira Pessoa (Fernando Pessoa)
·
Lisboa –
1888-1935
·
Escreveu em
diversas línguas
·
Multifacetação
do sujeito:
Personalidades
literárias (Coelho Pacheco,
Alexandre Search, Vicente Guedes, Charles Robert Anon),
Heterônimos
(Álvaro de Campos, Alberto Caieiro, Ricardo Reis)
Semi-heterônimo (Bernardo Soares)
Ortônimo (Fernando Pessoa)
Heteronimia: podemos considerá-los outros EUS que habitam o
poeta – inclusive, tais “eus” possuem diferentes biografias, traços físicos, profissões – a
mais importante característica: cada heterônimo possui um tipo de abordagem/visão
de escrita.
"O desdobramento do eu é um fenômeno em grande número de
casos de masturbadores", escreveu Pessoa.
Antônio
José Saraiva: “A sua obra,
como já foi dito, é uma literatura inteira, isto é, um conjunto de autores a
que ele chamou os seus heterônimos, cada um dos quais tem um estilo e uma
atitude que os distingue dos mais.”
Luís
Augusto Fischer: “É como se
esses eus múltiplos e diferentes explodissem dentro do artista, gerando
poesias singularmente diversas.”
Álvaro
de Campos
“Multipliquei-me, para me sentir
Para me sentir, precisei sentir tudo. (...)
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus
diferente”
Álvaro
de Campos
>
Engenheiro, formado em Glasgow
> Homem voltado para seu tempo – exaltação da
modernidade: máquinas, multidões, velocidade - associação com o Futurismo
> Questões existenciais/metafísicas
> Angústia
> Melancolia
> Indignação (falsidade, valores)
A
lucidez: Engana-se quem pensa que Álvaro de Campos é emoção, sistema nervoso,
febre; ele é, principalmente, lucidez.
“[...]
Coitado
do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado
dele que tanta pena de si mesmo!
E,
sim, coitado dele!
Mais
coitado dele de que muitos que são vadios e vadiam,
Que
são pedintes e pedem.
Porque
a alma humana é um abismo.
Eu
é que sei. Coitado dele!
Que
bom poder-me revoltar no comício dentro da minha alma!
Mas
até nem parvo sou!
Nem
tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não
tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não
me queiram me converter a convicção: sou lúcido.
Já
disse: sou lúcido.
Nada
de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda!
Sou lúcido.” Álvaro de Campos
Ode
triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da
fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza
disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos
antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! (...)
Porque o presente é o todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas das luzes elétricas
Ah,poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último
modelo! (...)
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher
possuída.
Alberto
Caeiro
> Considerado o mestre dos outros heterônimos
> Foge do conhecimento dos livros, de teorias
filosóficas e científicas - antimetafísico
> Retrata o campo exaltando a natureza - viver
simplesmente
> Linguagem coloquial
> O Guardador de Rebanhos (49 poemas)
I - Pensar
incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho. (...)
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer coisa natural
V - Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que eu penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso. (...)
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz
pensar
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
VI - Pensar em Deus é desobedecer Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou…
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos
Ricardo
Reis
> Amante
das culturas grega e latina.
> Criador
de odes
> Valoriza
a vida campestre
> A
passagem do tempo
> CARPE
DIEM
> Morte
como destino inevitável
>
Considerado o heterônimo clássico de Pessoa
> Vida
equilibrada, sem exageros
> Presença
da mitologia pagã
“Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente (...)
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente (...)
Amemo-nos tranqüilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do
outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”
“Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada!”
“Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje. (…)
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?”
“Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
o dia, porque és ele.”
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
o dia, porque és ele.”
Fernando
Pessoa
> Ortônimo (ou heterônimo)
> Mensagem (publicada em 1934, é a única obra que o poeta viu ser lançada, um ano
antes de sua morte) – canta os mitos e heróis passados de Portugal.
> A obra Mensagem está dividido em três
partes: e
- 1a. Parte - Brasão: conta-se a
história das glórias portuguesas
- 2a. Parte - Mar Português:
são apresentadas as navegações e conquistas marítimas de Portugal
- 3a. Parte - O Encoberto: o mito
sebastianista de retorno de Portugal às épocas de glória é o foco principal
X
- Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
> Saudade
> Solidão
> Nostalgia
> Melancolia
> Tédio
Quando
Ela Passa
Quando eu me sento à janela
P’los vidros
que a neve embaça
Vejo a doce imagem dela
Quando passa… passa… passa…
Lançou-me a mágoa sem véu: -
Menos um ser neste mundo
E mais um anjo no céu.
Quando eu me sento à janela,
P’los vidros que a neve embaça
Julgo ver a imagem dela
Que já não passa… não passa…
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Bernardo
Soares
> Considerado pelo próprio Fernando Pessoa um
“semi-heterônimo” - mistura os estilos do ortônimo (ou heterônimo) Fernando
Pessoa e do heterônimo Álvaro de Campos